Soft Skills: Habilidades intangíveis

Albert Bacelar
6 min readJan 19, 2021

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Analisando o cliente que solicita projetos para a saúde, na área de HealthTech ou não, uma vez que fui o product owner de alguns produtos digitais e trabalhei com alguns especialistas em deep learning, Data Science e gerente de projetos, observo uma tendência de algumas habilidades que não é facilmente encontrado em listas das tão faladas Soft Skills. É um tema relevante, visto que muitos já se preocupam se a inteligência artificial vai substituí-lo no trabalho e, por conseguinte, acabam por buscar o aperfeiçoamento dessas habilidades. Talvez a melhor tradução para as Soft Skills no português seja Habilidades Intangíveis, pois traz uma melhor ideia de que não há substituição do ser humano.

Muitas pessoas têm fortes habilidades técnicas, mas as habilidades não técnicas intangíveis podem fazer uma grande diferença ao iniciar um projeto e agregar valor ao longo do tempo, seja para qual atividade for. Aqueles com as seguintes habilidades foram incrivelmente cooperativos, empáticos e capazes de alcançar o sucesso nos projetos que cooperei ou estive à frente.

Segue abaixo sobre o que estou falando.

Segurança e Confiança

Esta é uma grande habilidade intangível que é necessário em qualquer área, mas em gerenciamento de projeto é muito importante ter segurança e confiança no que você sabe e no que é solicitado. Com tantas bruxarias e mágicas (descrença nos dados) nesse campo os profissionais precisam ser capazes de falar e demonstrar segurança sobre seu trabalho, projetos e ideias, responder a perguntas relevantes e ser primariamente honestos. Perguntas e/ou afirmações sobre o que você pode fazer. Juntamente com bom gosto e tato, os membros da equipe se tornarão imediatamente uma parte mais valiosa da equipe. Para estar seguro do que está sendo feito e projetado é necessário o conhecimento técnico, de fato, mas é preciso transparecer tal atitude. Nada de agir como um arrogante, afinal ninguém é bom o suficiente que justifique tal comportamento. Portanto aqui existe uma responsabilidade de moderar as expectativas e tentar manter as coisas no reino da realidade.

Estimar/Supor

Para ser sincero, essa é uma habilidade muito difícil porque tem muitas dimensões, como complexidade, característica da equipe, tempo, custo, etc., mas gradualmente percebe-se que a capacidade de fornecer estimativas precisas em tempo real é muito poderosa. É natural que no decorrer de um projeto, alguém possa perguntar: “… quanto tempo leva?”, “Quão difícil é fazer isso …?”, “Quanto custa?”. Além de fornecer respostas de qualidade diferentes de “Não sei” ou “Devo entrar em contato com você”, será mais provável que ajude a acelerar o andamento do projeto. Além disso, o desenvolvimento de boas habilidades de suposições, opiniões e estimativas provavelmente só é desenvolvido com a experiência. Você precisará entender a velocidade operacional da empresa, a taxa geral do projeto e uma compreensão da arquitetura geral usada pelo projeto. O famoso jargão de quem faz parte da média para alta gestão da expressão-pergunta “Para que serve a primeira reunião? — Para marcar a segunda reunião!” cabe muito bem aqui. Essa incapacidade em não dar essa previsão “mais precisa” acaba por atrasar questões mais urgentes, além de aumentar o retrabalho e maior custo operacional.

Networking

É uma competência vital para qualquer cargo na empresa, mas é fundamental estabelecer uma rede de contatos, além de uma boa relação de trabalho com todas as pessoas potenciais do projeto. As pessoas que tendem a trabalhar em posições altamente qualificadas geralmente ficam no “seu quadrado” e trabalham na obra assim que ela chega e assim que sai não dá uma segunda olhada. Se você conseguir entender todos os aspectos e funções envolvidos no projeto, você pode ajudar a resolver problemas no processo de desenvolvimento do projeto e/ou pode lembrá-lo de possíveis problemas no futuro. O diálogo e a consciência ajudam a preencher essa lacuna e a satisfazer nossas aspirações sociais como seres sociais. Para a rede, manter a operação normal da rede é totalmente aceitável. Algumas pessoas pensam que, ao conhecer pessoas, precisam fazer coisas fora do ambiente de trabalho, mas isso só depende de quem está disposto a fazê-lo. É o tipo de habilidade em que uma pressão para que isso ocorra, traduzindo em desconforto, pode resultar em um efeito contrário.

Storytelling ou narrativa

Vou preferir manter o termo em inglês, uma vez que é muito reproduzido em Design thinking (DT). Ainda, acredito que a própria palavra “narrativa” está sendo usada muito mais como um chavão, principalmente na língua portuguesa, mas na verdade há pouca elaboração sobre o que está encapsulado na habilidade de “contar histórias”. Além de ser capaz de descrever como as coisas funcionam, o Storytelling também inclui entender o público (a empatia do DT), prestar atenção aos detalhes e ser capaz de explicar a linha do tempo do projeto (história, status atual e status futuro) juntos para assimilar a compreensão do público sobre os diferentes membros do projeto, como por exemplo, partes interessadas/suporte. É importante se comunicar de forma eficaz e eficiente com os participantes, membros da equipe, funções de negócios e usuários finais. Para quem recebeu treinamento técnico, é muito fácil entrar no meio e perder a audiência, haja visto a maioria dos doutores e PhDs não conseguirem dar uma aula em que a captação de conhecimento seja no mínimo razoável. As partes que se importam podem estar interessadas na estimativa de tempo-custo do projeto e valor agregado, os funcionários da empresa querem saber se ele tem um design confiável relacionado aos processos de negócios e os usuários finais querem saber como simplificar seu uso e compreensão. Focar no assunto certo é fundamental para garantir que todos conheçam seu papel no projeto e, em última análise, ajude a fazer as contribuições necessárias durante o desenvolvimento do projeto. Para ajudar a lidar com o público, é preciso aprender a focar nos detalhes do projeto. Pode haver apenas um membro da equipe técnica que deseja saber os detalhes do problema de acessibilidade do banco de dados, e as partes interessadas podem precisar apenas dessas informações, e pode haver atrasos devido ao acesso aos dados. Finalmente, para contar a história, é provável que seja revisada e analisada durante o processo de desenvolvimento, e ser capaz de estabelecer e conectar o cronograma do projeto de forma consistente permitirá que aqueles que não fazem parte da equipe vejam o andamento do projeto. Isso significa mostrar como o projeto evoluiu ao longo do tempo até o presente e planejar para guiá-lo no futuro.

Apresentação do projeto “para um leigo”

Seguindo ideia de que a maioria dos doutores e PhDs não conseguirem dar uma aula em que a captação de conhecimento seja no mínimo razoável, saber visualizar e apresentar um projeto, por mais difícil e complexo que o mesmo seja, exige uma habilidade de ensino diferente do que o método cartesiano oferece. Embora possa pensar nisso como parte do storytelling, separo porque aqui envolve mais carisma e habilidades interpessoais, e entendo que a apresentação do projeto é uma extensão das habilidades técnicas para explicar o projeto. Em reuniões, efeitos visuais de alta qualidade são mais importantes do que você pensa. Dou aula em faculdades de diferentes áreas e cursos mais diferentes ainda, além das centenas de projetos que participei, sem citar os projetos que já vi, e sempre há uma diferença abissal na forma como são recebidos e apresentados. Por exemplo, se você precisa exibir dados e mostrar sua importância em uma reunião, evite exibi-los em forma de tabela, mas procure uma boa forma de visualizá-los por meio de gráficos ou desenhos. O uso de sinônimos é uma ferramenta interessante para buscar imagens no Google. Não esquecendo do background da apresentação, que faz toda diferença. Peça aos outros (mãe, avó, filho, neto de 12 anos de idade…) que pensem em como explicar o que você está mostrando para colocar o projeto em prática. Isso pode ser considerado uma coisa de formatação, mas para visão, apresentação e interface, uma aparência sólida, simples e limpa é essencial. Se a sua empresa possui cores padrão, use-as, se houver um certo tipo de impressão ou fonte comumente usada, use-as. Não deixe que as pessoas causem impressões com base na aparência de algo, e não no conteúdo. Um curso que mudou o engajamento dos meus alunos foi o “Chora PPT”, o qual recomendo fortemente. Visualizações fortes e simples sempre tornam as coisas mais fáceis para que outras pessoas consumam e entendam um projeto.

Aos muitos que me perguntam se a inteligência artificial vai substituí-lo ou até mesmo falar que a medicina vai ser robotizada, gosto de falar que vai sobrar tempo para que sejamos (ou por que não dizer, retornemos?) mais humanos. As tarefas que nós já realizamos de forma robotizada serão de fato robotizadas (aliás, “serão” não, já “estão sendo”). O que sobra para nós? Entendermos mais a necessidade do outro, aprimorarmos nossas habilidades intangíveis, ou seja algo que nunca deveríamos ter deixado de ser, sermos mais humanos.

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Albert Bacelar

Health Data, Design Thinking, Critical Care Physician, Care Economy